Obediência
Está ligada ao sentido da procura incessante da vontade de Deus
A prática das virtudes e o desejo da santidade são, nesta vida, preparação e desenvolvimento da vida eterna. Para o monge, constitui isso o conteúdo de sua vocação, pois este é convidado a viver já aqui na terra as realidades celestes. Para a realização desta tão sublime vocação, São Bento estabelece o recinto do mosteiro, como lugar propício ao seu desenvolvimento, é a chamada “escola do serviço do Senhor”.
Nessa escola, porém, a perfeição não é buscada como algo particular do monge, mas, comum a todos os membros desta comunidade que poderá chamar-se santa, já que somará mais que santos individualmente.
Descrevendo os quatro gêneros de monges – anacoretas, sarabaítas, giróvagos e cenobitas – no capítulo I de sua Regra, São Bento caracteriza o “poderosíssimo gênero dos cenobitas” como “aquele que milita sob uma regra e um abade” (RB1,2), ou seja, que vive sob a obediência.
Para São Bento, a obediência não é apenas a aceitação e o cumprimento das prescrições das constituições e dos superiores pela obrigação, nem confere a ela o mero valor funcional, sendo necessário para o bom funcionamento da comunidade apenas.
Para compreender-se o sentido real da obediência que o monge professa, segundo Dom André Louf, é preciso fazer-se a distinção entre a obediência política e a obediência evangélica na comunidade monástica.
Segundo ele, ainda hoje, na espiritualidade corrente há uma confusão entre essas duas formas de obediência. A obediência política consiste em que os membros de uma sociedade prestem obediência a um chefe, em vista do bem comum e este, por sua vez, é obrigado a dar ordens a serviço do bem comum também.
A obediência evangélica está ligada ao sentido da procura incessante da vontade de Deus, à escuta dessa vontade e estar disponível a ela, entregando-se ao seguimento de Cristo até o Pai, passando pela morte. É claro que as duas são importantes e necessárias no mosteiro, porém, a primeira está dentro da dimensão da segunda. Bento não se esquece da organização material da Casa de Deus, no entanto, realça também nelas a realidade sobrenatural. “Veja todos os objetos do mosteiro e demais utensílios como vasos sagrados do altar” (RB.31,10).
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